Segui todo o caminho, olhei apenas uma vez para trás, quando já me aproximava dos últimos passos até casa. Passei por duas ou três pessoas, no momento pareciam as mais estranhas de sempre. Naquele momento em que não deixei que as lágrimas rompessem com o meu rosto e em que para não parecer mal, deixei fugir duas palavras da minha boca.«Boa Tarde», ditavam elas. Aquela mulher que fazia um esforço enorme para empurrar uma criança grácil, olhou-me da ponta dos cabelos até à ponta das sapatilhas e murmurou (para também não parecer mal), «Boa Tarde menina».
Gente de fácil elogio, mas que a mim apenas me apeteceu insultar, dizer duas a três palavras de mau carácter, mas como já estava perto de casa e avistei a minha mãe sentada na rua, nem me dei ao esforço de gastar o meu reduzido vocabulário com pessoas que nem a água benta pode salvar. Enfim.
Disse mais três «Boas tardes» à vizinhança e estava a ver que nunca mais arranjava meio de vir para o computador. Se fosse no tempo retrógrado do meu avô, provavelmente ainda estava a cavar a terra, mas como não é deixo que ele resmungue e respondo-lhe sempre com esperança que um dia ele se deixe destas coisas! Por amor de Deus, que vida é esta em que apenas se procura mostrar o bonito que se tem por fora… eu ainda procuro alguém que seja capaz de olhar para dentro. Nomeadamente para o fígado, para o intestino, para o estômago, etc.
Hoje penso, afinal não sou a menina perfeitinha que a minha mãe desejava, mas também ando longe da lutadora que o meu pai procurava. Quando um dia, daqui a muitos dias, ultrapassar esta fase de criança e passar a ser uma dupla-criança, quero viver numa ilha bem isolada de pequenos rapazes e de grandes homens. Nem nenhuma qualquer raça, quero ver se posso acabar por contar os grãos de areia sem que ninguém grite: «JOANA, não faças isso!» ou «JOANA, não seja criança!». Serei eternamente o projecto não aprovado por aqueles que não contavam, mas que aconteceu. Não me importa ser criança, não me importa gritar por um gelado, não me importa chorar, e muito menos, já nem importa amar.
O adulto não come gelados para não sujar a cara toda, não chora perante os mais pequenos e contudo acaba por nem amar. Se o adulto é isto, então não quero passar do 1,50m!
Esta sociedade não existe. È pobre. É fútil. È inútil. É falsa. É grande de mais!
Eu vou ser assim, sempre pequena, mesmo que seja só por dentro, no que toca a fígado, estômago, intestinos e o etc. que referi antes. Vou ser aquele projecto inacabado, porque não vale apena investir numa coisa em que não se crê. Espero antes que os que estão vistos sobretudo por fora, sejam capazes de ser aqueles grandes futebolistas e meninos de bem. Porque eu, jogar à bola, apenas se fizer de todas as coisas más uma imensa bola e tentar chutar, mas o peso deve ser tal que nem os mil Homens da vida vão conseguir movê-la. Menina de bem? Também não me parece, as causas humanitárias também só têm valor para os que podem ofertar muito de pouco. O meu muito de pouco deve ser um tanto de nada. Por isso quero a ilha.
E com isto tudo para dizer que saí de lá passavam pouco das seis horas, mas que o caminho foi o mais agreste de sempre.
domingo, 10 de fevereiro de 2008
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